segunda-feira, 1 de junho de 2009

I'm Yours - Jason Mraz


Capítulo 1

Por volta de 1986, Priscila Casmicor aceitou se tornar uma Pekluz.

Buquês cheios de rosas e copos de leite, vestido com enchimentos leves e rodados, na época moda de ultima estação, com suas três daminhas de honra, jogando milhares de pétalas as seus pés. Foi lindo, nevava e o sistema de ar estava no clima aconchegantemente agradável.

Pena que nem tudo foi assim. A família Casmicor era modesta, economias apertadas, uma brasília branca anos 1950. Compraram o vestido mais vergonhoso possível, com frufrus enormes no umbral de tamanho 3 vezes maior que a magricela Priscila. Estava em promoção, na opinião da Sra. Casmicor, oferta imperdível.

A festa, bem, ficou por conta dos Pekluz. Glorificados entre os vizinhos e cidadãos de prestígio no vilarejo de Magtius. Pobres, e de um coração enorme para bondade, pessoas nas quais em épocas modernas são chamadas de raras.

Não teria como nevar, o calor era enorme, e o buquê mal chegou ao altar. Seis horas na geladeira, com gravetos e flores do campo que lotavam o jardim da mãe de Priscila, se desmancharam porque o laço feito de cipó não agüentou o suficiente para deixar cada flor em seu devido lugar.

A quem diga que foi um casamento horrível; uma noiva com cheiro de gasolina, pois digamos que a velha brasília branca dava lá seus improvisos desagradáveis, um noivo nervoso o suficiente para desmaiar no altar ao invés de dizer: “Sim eu aceito”. Nem tudo estava perdido, até o momento que a luz saiu, e os ventiladores de teto pararam de funcionar. Casamento a luz de velas, romântico.

Sr. e Sra. Pekluz enfim sós. Acima de todas as expectativas ruins de um casamento não tão bem planejado, se amavam muito, modelo de amor adolescente que cresce aos poucos e acaba com alianças douradas nos dedos.

Casa entre parentes, presente de Sr. Pekluz pai. Um cachorro engraçado, chamado de Gregori. Vasos de canto de janela, e uma linda barriga anunciando uma herdeira.

Eduarda Pekluz nasceu em Magtius, tal como seus pais. Em uma linda primavera, horas e horas de parto, seu pai claro, desmaiou.

Todo o encanto que nada mais trouxe para aqueles dias de muita alegria. Ao sair do hospital, Priscila ganhou uma miúda e feia arvore. Dizia a enfermeira, crente em misticismos, mas muito amiga da família, que uma arvore é como uma criança. Nasce com simplicidade complexa de cuidados, água às vezes, um chão fértil e um tanto de adubo. Nada de complicado, são estranhas e sem sentido. Crescem, abrem grandes sombras, virão grandes galhos que apóiam e quebram sem sentido em uma tempestade qualquer de verão. Murcham, são regadas e cultivadas por seus donos, que as deixam entortar ou as ajudam obter simetrias perfeitas. Podem se tornar grandes sombreiros de jardins invejáveis, lenha para churrascos de fim de semana, centenários ou apenas apodrecer aos poucos e ser devorada por cupins, alojar pássaros desesperados por abrigo. Não demora exatamente nove meses para se formar, mas tem conceitos parecidos.

Parece incrível, e assustador comparar uma inofensiva criança com uma árvore. Eduarda talvez fosse uma laranjeira florida, futuramente um limoeiro espinhento e anti-social, coqueiro de sombra agradável, ou um pé de acerola, saboroso e que faz coçar muito. Sabe se Deus o que se transformaria.

Foi em tudo isto que Priscila pensou. Afinal não haveria nada a perder, uma arvore bonita no fundo do jardim ou modelo de educação que desejava dar a sua filha. Nem ela saberia definir o que pesaria mais, se algo tão fofo poderia ser mesmo espinhento, enrugado ou murchar mesmo. Deve ser mesmo verdade que toda mãe deseja que seus filhos sejam esguios, fortes para qualquer tempestade boba, e de colorido invejável, assim como uma árvore. Não qualquer; mas daquelas que chamam atenção até em um, quem sabe, Central Park New York city.